Dia 20 de Junho de 1916

Deixámos o Cabo no dia 20 pela uma da tarde.

Tarde nevoenta, lençol velando esse espectáculo grandioso que é a cidade reclinada sobre o dorso dessa espécie de montanha que se eleva acima do mar.

Não houve novidades? Houve-as sim.

Festejaram-se nesse dia os anos do Hernâni e do Leite. Os 23 anos de dois companheiros. 23 anos que jamais esquecem, passados longe da Família, nas zonas tórridas de uma África inóspita.

Quebraram-se 5 garrafas de champanhe.

Mas o correr do champanhe foi triste.

Pois não era uma festa triste, um engano de almas?

O champanhe correu lânguido e a sua espuma cantava uma elegia.

Que direi eu a essa festa sem luz, sem vida, sem animação? As almas jovens, diz a lenda, quando sofriam costumavam mergulhar esse sofrimento em gotas das uvas do Egeu, que as namoradas tinham esmagado em taças de oiro.

Esse sofrimento, narra a mesma lenda, mitigava-se com aquelas lágrimas e as namoradas adormeciam  num regaço trancado a rosas, entre perfumes e canções.

O nosso sofrimento não tem esse adormecer, nem o nosso champanhe foi servido por mãos de namoradas.

Com ele saudámos uns amigos que nasciam, e as suas namoradas ausentes, longe, nos confins da noite.

Festejo triste de almas enamoradas!...

É tão triste, e tão extenuante que soube adormecer quem bebeu esse galeno, servido nas taças pelas mãos másculas de um camarateiro de 2ª classe...

Ai saudades, ai recordações!...  

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