Dia 28 de Junho de 1916 (2)

Faz hoje um mês que embarcámos.

30 dias sobre as águas.

Vida enfadonha, monótona, aborrecida.

Que diabo, compreende-se uma viagem de oito dias, mesmo de quinze. Mas 30 dias! É de envelhecer, é de criar brancas na nossa juba negra.

Se ao menos houvesse mulheres... Seriam para nós esses dias umas simples horas... Mas assim...

É hoje véspera de S. Pedro.

Na minha terra há festas, o velho pescador mostra-se imponente às raparigas, triunfante das suas enormes chaves.

Ele abre as portas do céu, e as raparigas entre uma oração e uma cantiga pedem-lhe que lhes abra as da terra.

E na suposição de serem ouvidas, as raparigas da minha terra vêm a cantar pelas ruas fora, abraçadas aos conversadores, deixando-se beijar nos olhos, nas faces, na boca... sem perceberem que se vão perdendo e que o velho pescador, surdo aos seus rogos, conserva sempre a mesma atitude e não desce a abrir-lhes a felicidade perdida.

Raparigas da minha terra, nos vossos lábios de morango, húmidos de desejo, quentes de vida, há um não sei quê que atrai e prende, e, sem o sentirmos, faz fundir neles os nossos lábios num beijo muito longo, muito rubro, interminável, criador de novos desejos e novas loucuras!...

Véspera de S. Pedro a 30 dias da minha Pátria!...

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