O vapor "Portugal" levantou ferro às 5 da tarde do dia 28 de Maio de 1916.
A saída da Pátria é um acontecimento triste. É certo que a partida se reveste, por vezes, de um esplendor e alegria, aparentando, assim, a inexistência de um mal-estar que nos invade sempre. Eu sei, eu sinto-o, que nada há mais belo e sublime que defender a terra-mãe mesmo que, para isso, a tenhamos de abandonar. Não é só dentro da nossa terra que defendemos a nossa Pátria. Muitas vezes, quase sempre até, a defesa de um país fora dele traz resultados mais palpáveis, mais nítidos, de um melhor resultado. Ah! Mas a saída da terra onde se nasceu, onde se viveu a infância e se aspirou os primeiros perfumes e se olharam as primeiras cores, é sempre um acontecimento triste. Na frase daqueles jovens espartanos qo rei persa resume-se toda a dor, toda a saudade que o afastamento da nossa Pátria traz.
Seis horas da tarde!... Lisboa esfuma-se numa névoa, vai-se perdendo, desaparecendo quase.
Começa no nosso espírito o desfilar de todos os sonhos, de todas as quimeras, de toda essa vida que talvez não volte mais. Veloz como o raio é a existência do nosso bem-estar. A um bem efémero sucede uma contrariedade que resiste. À luz sucede a treva.
Só agora sei, ó Pátria, quão forte é o amor por ti; agora o percebo, agora a minha alma se eleva numa oração para que a minha ausência curta seja. Eis uma sombria Lisboa. Meus olhos perdem-te em breve e eu serei o minúsculo centro da imensidade atlãntica.
E a minha alma contigo fica, A. E o meu espírito também, alma que és só luz, pequenino corpo que os meus olhos seduziram.
Mal diviso ao longe terra!...
Mal te diviso já, ó Pátria dos meus pais!...
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